Imagine uma residência que captura a essência da arquitetura moderna brasileira, projetada em 1961 por João Filgueiras Lima, o Lelé, para o amigo César Prates. Essa joia em Brasília, a primeira casa construída pelo arquiteto na capital, incorpora inovações como os “sheds” que garantem iluminação e ventilação naturais, além de uma integração fluida entre espaços internos e externos, com materiais como pedra bruta, madeira e concreto aparentes. No térreo, áreas sociais e de serviço se conectam harmoniosamente, enquanto o pavimento superior abriga os quartos, com um jardim interno que promove luminosidade e ar fresco. Elementos como painéis treliçados de madeira filtram a luz e asseguram privacidade, refletindo uma tradição que valoriza leveza e fluidez. Para o arquiteto Adalberto Vilela, professor da UnB, essa obra marca o início da trajetória de Lelé, ligada a materiais naturais e uma espacialidade inspiradora, como a escada suspensa por pinos metálicos, um exemplo de economia e design inteligente.
Outro destaque é o sistema de umidificação criado por Lelé, com paredes de pedras naturais e gotejamento de água para combater o clima seco de Brasília, demonstrando uma visão pioneira de conforto e sustentabilidade muito antes de o tema ganhar destaque. Adriana Filgueiras Lima, filha do arquiteto e também profissional da área, recorda com carinho os espelhos d’água e jardins da infância, vendo na casa um valor imenso que merece ser restaurado para preservar suas características originais. Ela se oferece para participar de uma possível revitalização, transformando o que hoje é deterioração em uma oportunidade de homenagear o legado do pai. Vizinhos como Andrea Pires Figueiredo, Ana Cristina Santana, Simone Corrêa e Hélio Figueiredo Júnior compartilham o desejo de ver o imóvel cuidado, destacando seu potencial como patrimônio cultural que enriquece a cidade.
Apesar dos desafios atuais, como sinais de abandono que afetam a vizinhança com questões de segurança e saúde, há um otimismo crescente na comunidade jovem de Brasília para que a embaixada responsável tome providências positivas, como uma restauração que respeite a história. Essa casa não é só um imóvel esquecido, mas uma inspiração para novas gerações valorizarem a arquitetura sustentável e inovadora, podendo se tornar um ponto de encontro cultural e educacional na capital.