Mais um caso de feminicídio abala o Distrito Federal, marcando o 26º registro neste ano. Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, cabo e musicista da Fanfarra do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas, no Setor Militar Urbano, foi encontrada carbonizada após um incêndio no quartel. O corpo apresentava um corte profundo no pescoço, e o soldado Kelvin Barros da Silva, de 21 anos, confessou o crime, alegando inicialmente uma discussão por um suposto relacionamento, mas apresentando versões contraditórias, incluindo uma em que a vítima teria sofrido um surto psicótico ou tentado usar uma arma. Capturado no Paranoá, ele foi preso em flagrante, com a custódia convertida em preventiva, autuado por feminicídio, furto de arma, incêndio e fraude processual. A advogada Leila Santiago, representante da família, reforça que Maria era solteira, focada na carreira e rejeitava relacionamentos no ambiente de trabalho, sugerindo que o crime foi motivado pela incapacidade do agressor de aceitar a autoridade feminina dela, que o coordenava naquele dia.
A vítima, conhecida como Malu, era apaixonada por música, católica e disciplinada, preparando-se para concursos no Corpo de Bombeiros e na Força Aérea Brasileira. Familiares e fontes próximas negam qualquer vínculo com o acusado, que se apresentava como “bom samaritano” e supostamente se aproveitava de recém-chegadas ao quartel. O Exército lamentou o ocorrido em nota, afirmando que a família recebe apoio e que um Inquérito Policial Militar foi instaurado, com o soldado prestes a ser expulso. As investigações envolvem o Batalhão de Polícia do Exército, a Polícia Civil do Distrito Federal e o Corpo de Bombeiros, com perícias em andamento no Instituto Médico Legal.
Especialistas destacam implicações políticas e institucionais, como a necessidade de cooperação entre Justiça Militar e Comum, conforme jurisprudência do STF. Ivonete Granjeiro, advogada e consultora legislativa da Câmara Legislativa do DF, enfatiza a Lei nº 14.994/24, que qualifica o homicídio de mulheres por razões de gênero como crime hediondo, com pena de 20 a 40 anos. Ela defende políticas públicas para fortalecer redes de proteção, educação em igualdade de gênero e capacitação de agentes, alertando para desafios como a cultura hierárquica e masculinista em instituições militares. Lucia Bessa, do Instituto Viva Mulher, propõe treinamentos obrigatórios, canais de denúncia independentes e protocolos de punição imediata para prevenir abusos.