José Antonio Kast, candidato direitista, foi eleito presidente do Chile após uma vitória expressiva sobre a candidata comunista Jeannette Jara no segundo turno das eleições. Jara reconheceu a derrota publicamente, declarando em sua conta no Twitter que havia conversado com Kast para desejar-lhe sucesso pelo bem do país. Essa conquista marca a terceira tentativa de Kast à presidência: em 2017, ele obteve apenas 8% dos votos, ficando em quarto lugar; em 2021, venceu o primeiro turno, mas perdeu para Gabriel Boric com 44% no segundo. Desta vez, apesar de Jara ter liderado o primeiro turno em novembro, Kast garantiu a maioria com o apoio de candidatos derrotados como o libertário Johannes Kaiser e a conservadora Evelyn Matthei. Advogado católico e conservador de 59 anos, nascido em Paine, na região metropolitana de Santiago, Kast é o caçula de dez filhos de imigrantes alemães que chegaram ao Chile após a Segunda Guerra Mundial. Sua ascensão política, outrora impensável até para amigos próximos, transformou a direita tradicional chilena, evocando comparações com líderes como Donald Trump, Javier Milei e Nayib Bukele.
O passado familiar de Kast gerou controvérsias, especialmente quanto ao pai, Michael Kast, que, segundo investigações jornalísticas baseadas em documentos dos Arquivos Federais da Alemanha de 1942, foi membro do partido nazista aos 18 anos – embora Kast negue qualquer ligação familiar com o nazismo. Ele defendeu o regime de Augusto Pinochet, afirmando que votaria no ditador se estivesse vivo, e destacou avanços durante o período militar, como a transição para a democracia, contrastando com regimes como os de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Irmão de Miguel Kast, que ocupou cargos no governo Pinochet, José Antonio iniciou sua carreira na Universidade Católica, participando do Movimento Guild fundado por Jaime Guzmán, redator da Constituição de 1980. Após atuar como vereador e deputado pela União Democrática Independente (UDI), fundou o Partido Republicano, distanciando-se do “politicamente correto”. Casado com María Pía Adriasola, com quem tem nove filhos, e ligado ao movimento católico conservador de Schoenstatt, Kast rejeita o rótulo de extrema-direita, mas suas posições reavivaram memórias dolorosas para vítimas do regime militar.
Kast propõe um “governo de emergência” focado em segurança e migração, prometendo cercas ou valas nas fronteiras com Bolívia e Peru, inspirado em Trump, e elogiando a abordagem de “mão de ferro” de Bukele, cuja megaprisão visitou apesar de denúncias de violações de direitos humanos. Economicamente, defende um ajuste fiscal de US$ 6 bilhões em 18 meses, cortando “gastos políticos” e criticando a “casta política”, ecoando Milei. Ele trocou afagos com Jair Bolsonaro e parabenizou Trump por sua eleição em 2024, mas evitou questionar o sistema eleitoral chileno, reconhecendo derrotas passadas. Analistas como Robert Funk, da Universidade do Chile, veem Kast como representante de uma direita nacionalista populista, alinhada a modelos globais, embora ele modere pautas culturais como oposição ao aborto para atrair votos femininos, mantendo convicções católicas firmes, como rejeição a contraceptivos artificiais. Sua vitória indica tração para esse movimento no Chile, apesar de dúvidas sobre a viabilidade de suas propostas.