Em depoimento ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a atendente do Pizza Hut vítima de ofensas racistas por Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro (PL), descreveu como sua rotina de trabalho virou um pesadelo. O incidente inicial ocorreu em outubro de 2020, na unidade do Pier 21, no Lago Sul, onde Wassef se recusou a ser atendido por ela, alegando que era “negra, tem cara de sonsa e não vai saber anotar meu pedido”. Ele a segurou pelo braço e jogou uma caixa de pizza no chão, ordenando que a recolhesse. No mês seguinte, após reclamar da qualidade da pizza, o advogado a chamou de “macaca” e disse que ela “come o que te derem”. A vítima rebateu, mas Wassef retrucou que “serviçais não falam daquele modo com pessoa de alto nível”. Ela relatou se sentir humilhada, com impactos emocionais profundos, incluindo medo de retornar ao trabalho e de encontrar o acusado novamente, o que a levou a se afastar temporariamente e ser transferida para outra unidade antes de deixar a empresa.
A 3ª Vara Criminal de Brasília condenou Wassef a 1 ano e 9 meses de prisão em regime aberto por injúria racial, com a pena substituída por medidas restritivas de direitos e pagamento de R$ 6 mil em danos morais à vítima. O juiz Omar Dantas Lima destacou que as ofensas feriram a dignidade da atendente devido à sua cor de pele, com reprovabilidade agravada pela profissão de Wassef como advogado criminalista, que deveria ter maior percepção da gravidade da conduta. Testemunhas, como o gerente e colegas, confirmaram o abalo emocional da vítima, que evitou contato com o réu. O magistrado enfatizou que o crime é doloso e visa denegrir a honra subjetiva, com provas coesas da acusação.
Apesar da condenação, Wassef foi absolvido das acusações de racismo e vias de fato relacionadas ao episódio de outubro de 2020, por insuficiência de provas, conforme pedido do Ministério Público. Em defesa, o advogado negou as ofensas, alegando uma “engenharia criminosa” por adversários políticos, mas o juiz considerou as alegações infundadas. Seus representantes afirmaram que recorrerão pela absolvição integral, confiantes nas provas dos autos. Wassef, réu primário, pode recorrer em liberdade.