Em São Paulo, a exposição “Ònà Irin: caminho de ferro”, da artista baiana Nádia Taquary, transforma o Sesc Belenzinho em um espaço de celebração ao protagonismo feminino e à herança afro-brasileira. Com 22 obras que misturam instalações, esculturas, videoinstalações e objetos-esculturas, a mostra homenageia o orixá Ogum, o sagrado perpetuado por mulheres e a resiliência diante da escravidão. Inspirada nos balangandãs – peças de ouro e prata usadas por mulheres negras, com pingentes que unem elementos do cristianismo e religiões de matriz africana –, Taquary traz à tona uma narrativa de empoderamento. Esses itens, longe de serem meros acessórios, representavam o pecúlio, uma forma de acumular recursos para a alforria, permitindo que escravizados escapassem da opressão e ajudassem outros. Para um público jovem, a exposição convida a uma reflexão positiva sobre identidade e resistência, com elementos lampejantes e mulheres-pássaros que simbolizam a força de quem sobrevivia ao impossível, distribuídos em um salão escuro que realça a opulência da joalheria africana.
A pesquisa de Taquary sobre joalheria afro-brasileira, iniciada em 2010, ganha vida nessa montagem, materializando o feminino e o divino. Filha de mãe branca e pai preto, a artista conta que um balangandã presenteado pelo pai, herança de sua bisavó, avó e mãe, a conectou à tradição iorubá e ao protagonismo das mulheres em uma sociedade escravocrata e sexista. “Não vejo nada ligado a acessório, vejo tudo aqui ligado à história”, explica ela, destacando como esses objetos eram uma economia guardada no próprio corpo, em tempos sem contas bancárias. Essa estética ostentatória, influenciada pelo povo akan da África, desafiava proibições coloniais e afirmava identidade. Além dessa exposição, Taquary apresenta “Ìrókó: Árvore Cósmica” na 36ª Bienal de São Paulo, no Pavilhão da Bienal no Parque Ibirapuera, reforçando o protagonismo preto na arte contemporânea.
Com um tom de esperança e valorização cultural, a mostra incentiva jovens a explorarem raízes ancestrais, mostrando como a criatividade pode transformar narrativas de dor em símbolos de liberdade e ascensão. É uma oportunidade vibrante para se conectar com o passado e inspirar o futuro.